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Card. Jean Louis Tauran Card. Jean Louis Tauran 

Card. Tauran: cristãos não sejam cidadãos de série B

Diálogo, cooperação, papel das religiões contra o terrorismo: são os temas centrais da visita do cardeal Tauran à Arábia Saudita. O purpurado declarou ao Vatican News: “O futuro está na educação. Os cristãos não devem ser considerados cidadãos de segunda classe”.

Cidade do Vaticano

O cardeal Jean Louis Tauran presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, concluiu sua viagem à Arábia Saudita, primeira visita de um chefe de Discastério naquele país. Ao chegar em Riad na sexta-feira (20/04) o cardeal foi recebido pelo príncipe Mohammed bin Abdurrahman bin Abdulaziz, vice-governador da capital, e pelo secretário da Liga Muçulmana Mundial (Lmm). Também estava presente o bispo secretário do dicastério, o comboniano D. Miguel Ángel Ayuso Guixot, vindo de Nairóbi. No decorrer da sua permanência, o card. Tauran encontrou um grande número de cristãos que trabalham no país, dirigindo-lhes palavras de encorajamento.

Ouça a reportagem

R. – Primeiramente, é preciso sublinhar o caráter absolutamente extraordinário deste encontro. Trata-se da primeira visita de um chefe do dicastério da Santa Sé, neste caso um cardeal, na Arábia Saudita. Não podemos esquecer que no país encontram-se os dois maiores santuários do Islã: a Meca e Medina. A monarquia saudita e Papa Francisco deram total apoio à essa iniciativa. Na manhã da minha partida de Riad, havia oito editoriais na imprensa árabe sobre o acontecido, ou seja, a assinatura do acordo: um acordo de cooperação, como o que temos com o Marrocos e outros países, que agenda um encontro a cada três anos, para estudar um determinado tema.

Durante sua visita à Arábia Saudita, berço do Islã, o senhor recordou que todas as religiões devem ser tratadas do mesmo modo, e sublinhou que a ignorância é uma ameaça à coexistência…

R. – Acredito que todas as religiões encontram-se diante de dois perigos: o terrorismo e a ignorância. O futuro está na educação, não há outros meios. E durante meus encontros insisti muito sobre este ponto: para que nas escolas se fale bem dos cristãos, dos não muçulmanos e que estes não sejam considerados cidadãos de “segunda classe”. Há muito trabalho neste aspecto. Fiquei muito satisfeito quando o rei falou que reconhece a contribuição dada pelos cristãos na construção do país.

Pode-se falar que na sua visita foi cumprido um “passo decisivo”?

R. – O fato de que o Papa e o rei tenham se interessado particularmente e que a assinatura deste acordo tenha se concretizado, são um sinal de uma vontade de dar uma nova imagem ao país. Notei uma intenção, por parte das autoridades, de mostrar que na Arábia Saudita há a possibilidade de discussão, e portanto de mudar a imagem do país.

Sua visita foi feita em um momento em que o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, está tentando introduzir reformas profundas no Reino Saudita. Na sua opinião, sob este impulso, há uma maior vontade de diálogo com os responsáveis das várias religiões, com a Santa Sé?

R.- Vejo intenções de aproximação, mas uma vontade… não diria. Acredito que seja necessário esperar para isso. No que se refere à audiência com o rei, é a primeira vez, desde que me dedico à esta região, que vejo um abertura midiática tão ampla, e ao mesmo tempo, diria, tão equilibrada.

O senhor acredita na vontade de sensibilizar a população ao diálogo inter-religioso?

R.- Sobretudo os jovens, isso sim. Há muitos jovens que vão estudar no exterior, e que voltam com outras ideias. A nova geração pode realmente ajudar de maneira decisiva a “mudar de marcha” num certo sentido.

Quais são as próximas etapas deste diálogo estabelecido com o Reino Saudita?

R.- Será preciso escolher o tema da próxima reunião, a primeira. Acredito que será um tema dedicado à educação. E tudo o que fizermos deverá ser concreto: palavras e textos já temos em demasia. Deve-se sentir que alguma coisa está acontecendo. Creio que a geração dos jovens não só esteja pronta para isso, mas que tenha meios para instaurar este tipo de relação. Os muçulmanos e os cristãos são capazes de ouvirem-se, olharem-se, trabalhar e construir algo juntos. O mundo muda, a história demonstra isso. Portanto, se isso foi possível nos séculos anteriores, por que não pode ser também agora?

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25 abril 2018, 09:57