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Papa Francisco com os jovens Papa Francisco com os jovens 

Editorial: Levar os jovens a sério

“Precisamos de jovens profetas”, mas “vocês nunca serão profetas se vocês não forem fazer sonhar um idoso que está entediado, porque ninguém o ouve. Façam sonhar os idosos e esses sonhos os ajudarão a seguir em frente”.

Silvonei José - Vaticano

Ousem “novos caminhos”, saiam da lógica do “sempre se fez assim”: é preciso estar de modo criativo no sulco da autêntica tradição cristã. Este o forte apelo do Papa Francisco aos cerca de 300 jovens que estiveram reunidos nesta semana no Pontifício Colégio Internacional "Maria Mater Ecclesiae", em Roma. Jovens de vários países do mundo, não só católicos, mas também de outras confissões e religiões cristãs.

Em seu discurso na manhã da última segunda-feira, na abertura dos trabalhos da reunião pré-sinodal, com amplas improvisações, o Papa mostrou que conhece muito bem o mundo dos jovens e os seus problemas, especialmente o do desemprego, “um pecado social” do qual a sociedade é responsável. Ele também pediu repetidamente para que os jovens falassem abertamente, sem ter vergonha, nesta reunião pré-sinodal, em vista do Sínodo sobre a Juventude de outubro.

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O coração da Igreja é jovem precisamente porque o Evangelho é como uma linfa vital que continuamente a regenera - sublinhou Francisco - e é por isso que ele incentiva todos a colaborarem nesta fecundidade. Assim, seu forte apelo para ousar novos caminhos. Devemos arriscar mesmo se acompanhados de prudência, porque senão “um jovem envelhece e também a Igreja envelhece”. De fato, muitas vezes, encontramos comunidades cristãs envelhecidas por medo de “sair para as periferias existenciais da vida”, onde “se joga o futuro”.

Francisco disse que os jovens provocam para que todos saiam da lógica do “mas sempre se fez assim”. E essa lógica, afirmou, é um veneno. Mas é um veneno doce, porque nos acalma a alma e nos deixa como anestesiados e não nos deixa caminhar. Sair da lógica do “sempre se fez assim”, para permanecer de modo criativo no sulco da autêntica Tradição cristã, mas criativo.

 “Não são o Prêmio Nobel da prudência”

Os jovens “devem ser levados a sério”, disse Francisco. Não bastam análises sobre o mundo da juventude, devemos interpelá-los, mesmo que seja verdade que “não são o Prêmio Nobel da prudência” e “às vezes falam com a bofetada”. “Alguém acha que seria mais fácil manter  vocês a uma distância segura”, para não serem provocados por vocês, observou o Papa, insistindo para que os jovens sejam levados a sério. Não basta trocar “algumas mensagens ou compartilhar fotos simpáticas”, senão você cai na “filosofia da maquiagem”, acrescentou: “estamos cercados por uma cultura que, se por um lado idolatra a juventude tentando não deixar que a mesma acabe, por outro exclui tantos jovens de serem protagonistas”. Às vezes, os jovens devem falar com a cara dura, sem se envergonhar, quem sabe de um cardeal.

Pecado social

Francisco toca também na tecla do drama do desemprego. Muitas vezes os jovens - lembrou ele – “mendigam empregos que não lhes garantem um futuro”. O que faz um jovem que não encontra trabalho? Fica doente – a depressão - cai em vícios, comete suicídio – isso faz pensar: as estatísticas do suicídio juvenil são todas fraudadas, todas. Rebela-se, é uma maneira de cometer suicídio - ou pega um avião e vai para uma cidade que eu não quero nomear e se alista no ISIS ou em um desses movimentos de guerrilha. Pelo menos, terá um sentido de vida e terá um salário mensal. E isso é um pecado social! A sociedade é responsável por isso.

Francesco, portanto, pediu aos próprios jovens que ajudem a entender as causas e expliquem como vivem esse drama.

O Papa recordou também ter lido alguns e-mails do questionário colocado em rede pela Secretaria do Sínodo e disse ter ficado impressionado pelo apelo de vários jovens: pedem aos adultos para que estejam próximos a eles, pois precisam de pontos de referência.

“Precisamos de jovens profetas”

O Santo Padre falou então de se construir uma nova cultura que porém - advertiu - não deve ser sem raízes, que são os idosos, os avós. “Precisamos de jovens profetas”, mas “vocês nunca serão profetas” – disse – se vocês não forem fazer sonhar um velho que está entediado, porque ninguém o ouve. Façam sonhar os idosos e esses sonhos os ajudarão a seguir em frente”.

Neste Domingo de Ramos e XXXIII Jornada Mundial da Juventude o documento conclusivo dos trabalhos desta semana será entregue ao Papa.

Francisco convidou a Roma jovens de todo o mundo. Eles, com suas discussões irão ajudar a preparar o Sínodo que em outubro reunirá os Bispos sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. O próximo Sínodo se propõe, em particular, desenvolver as condições para que os jovens sejam acompanhados com paixão e competência no discernimento vocacional, isto é, no “reconhecer e acolher o chamado ao amor e à vida em plenitude”. “Esta é a certeza básica: Deus ama cada um e a cada um faz pessoalmente um chamado”. É um presente que, quando é descoberto, enche de alegria. “Os jovens devem ser levados a sério”, recordou mais uma vez Francisco!

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24 março 2018, 08:43