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S. João Damasceno, presbítero e doutor da Igreja

S. João Damasceno, manuscritto do século XIII S. João Damasceno, manuscritto do século XIII 

João nasceu em Damasco, na Síria, no seio de uma influente família árabe-cristã. Ainda jovem, herdou do seu pai o cargo de administrador do califado local. Pelo fato de ter estudado filosofia e teologia, em Constantinopla, junto com o monge Cosme, foi deportado como escravo para a Síria. Este fato, porém, foi determinante para ele: após alguns anos, deixou a vida de corte para seguir a vida monacal.

Escolha de vida ascética

Durante o ano 700, João escolheu seguir a vida ascética. Porém, antes de entrar para o mosteiro de São Sabas, situado entre Jerusalém e Belém, despojou-se de tudo: distribuiu seus bens aos pobres, concedeu a liberdade aos servos e fez uma peregrinação a pé pela Palestina. Em São Sabas, tornou-se monge, junto com seu irmão - o futuro Bispo de Maiouna; – ao ser ordenado sacerdote, aceitou o cargo de pregador titular na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém. Ali, Padre João transcorreu grande parte da sua vida, extraindo da oração e da meditação a linfa, que aumentou a sua fé e a da Igreja, à qual deu uma grande contribuição, com seus escritos, obras e hinos.

Teólogo das imagens sagradas

Na época de João Damasceno, as imagens sagradas não eram muito difundidas entre os cristãos, por causa de uma herança, proveniente da tradição do Antigo Testamento, que proibia toda e qualquer reprodução da imagem de Deus. Até o imperador bizantino, Leão Isáurico, havia empreendido uma guerra impiedosa contra o culto das imagens sagradas. Por sua vez, a pedido do Papa Gregório III, João Damasceno assumiu o papel de ferrenho defensor de tais imagens, empreendendo uma luta, por toda a sua vida: a luta contra a iconoclastia. Sua arma principal era a teologia e sua principal tese foi um dos fundamentos da fé cristã: a Encarnação, ou seja, Deus, ao se tornar homem, passou do invisível ao visível, com sua carne e sangue. Bento XVI recordou este Santo em sua catequese, na Audiência geral de 6 de maio de 2009: “João Damasceno foi o primeiro a fazer a distinção, no culto público e privado dos cristãos, entre a adoração e a veneração: a primeira, pode ser dirigida somente a Deus; a segunda, pode ser utilizada como imagem para se dirigir a uma pessoa à qual presta culto”.

São Tomás do Oriente

Devido à sua profunda cultura teológica, entre outras, João recebeu o apelido de "São Tomás do Oriente", tanto que Leão XIII, em 1890, o proclamou Doutor da Igreja, por sua contribuição dada à Igreja Oriental. A principal obra de João Damasceno foi a “De Fide orthodoxa”, que sintetiza o pensamento da Patrística grega e as decisões doutrinais dos Concílios da época, como também um ponto de referência fundamental, tanto para a Teologia católica como para a Ortodoxa. Além disso, escreveu a “De haeresibus” sobre as heresias cristãs mais difundidas na sua época. Suas teses, como as de São Germano de Constantinopla, prevaleceram, mesmo depois da sua morte, no Segundo Concílio de Nicéia, em 787.

O milagre da mão

Segundo uma crença bastante difundida, João Damasceno foi o protagonista de um milagre recebido da Virgem Maria. Quando ainda residia na Corte, foi acusado de traição e, como sentença, sua mão direita foi amputada. Então, João rezou com ardor, diante de um ícone da Virgem: ela atendeu as suas orações e, prodigiosamente, recolocou a mão no seu lugar. Como reconhecimento, João mandou fazer uma mão de prata, que foi acrescentada ao ícone. Assim, deu-se origem ao culto oriental da Virgem Tricherusa, ou seja, de três mãos.

Oração de São João Damasceno a Nossa Senhora
«Saúdo-vos, Maria, esperança dos cristãos!
Atendei a súplica de um pecador, que vos ama com ternura,
vos honra, de modo particular,
e deposita em vós toda a esperança da sua salvação.
Recebi de vós a vida.
Vós me reconduzis à graça do vosso Filho
e sois penhor seguro da minha salvação.
Rogo-vos, pois, de livrar-me do peso dos meus pecados;
dissipar as trevas do meu coração;
reprimi as tentações dos meus inimigos
e guiai a minha vida, de tal modo que eu possa,
por vosso intermédio e sob a vossa proteção,
chegar à felicidade eterna do Paraíso».