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CNBB: análise de conjuntura social e eclesial

Os trabalhos da 61ª Assembleia Geral em Aparecida. Análise de conjuntura social e eclesial ajudas na elaboração das Diretrizes para a Ação Evangelizadora.

Padre Modino – Vatican News

Nesta sexta-feira, dia 12, durante os trabalhos da 61ª Assembleia Geral que está sendo realizada em Aparecida de 10 a 19 de abril de 2024 houve a Análise de conjuntura social e eclesial, que sempre se realiza no início dos trabalhos das assembleias, uma análise que quer ajudar a construir as Diretrizes para a Ação Evangelizadora da CNBB. Nunca foi fácil essa análise diante de uma realidade tão ampla, ainda menos na atual complexidade presente em uma sociedade onde “todos os fenómenos estão interligados como uma grande rede”.

Radiografia do mundo, da América Latina e do Brasil

Uma sociedade dividida, marcada pelo ódio na sociedade e na política, inclusive na Igreja, que vive uma mudança de época, que demanda “construir novas estruturas de análises sociais”. Esse é o propósito do Grupo de Análise de Conjuntura da CNBB – Padre Thierry Linard - , que tem buscado realizar “uma radiografia do mundo, da América Latina e do Brasil”, para que os bispos possam ter um conhecimento mais aprofundado da realidade, segundo o bispo de Carolina (MA) e coordenador do grupo, dom Francisco Lima Soares.

Estamos diante de uma realidade que demanda “entender a reconfiguração histórica da visão do mundo”, ainda mais em uma conjuntura em que “o cidadão é objeto de um constante bombardeio informacional e desinformacional”. No mundo atual os desastres naturais são cada vez mais frequentes, e no Brasil faltam políticas públicas para enfrentá-los, e as guerras marcam negativamente a conjuntura económica, requerendo “estratégias económicas transformadoras”. A previsão é um baixo crescimento econômico para América Latina e para o mundo como um todo, e “as pessoas demonstram uma esperança negativa em relação ao futuro”.

Polarização e sectarismo

Na política, América Latina, com um papel limitado no cenário global, vive uma profunda instabilidade, que aumenta diante das eleições previstas em diversos países nos próximos meses. Junto com isso se constata um enfraquecimento da democracia, sociedades divididas e crises de projetos, que mostra a importância da construção de espaços de resistência. Cresce no mundo atual a polarização, que no Brasil pegou um terreno fértil, também na Igreja, e o “identitarismo ou sectarismo”, que provoca a constituição de “uma política de exclusão e antagonismo, que impede o diálogo e a superação das divergências”, que fez com que as pessoas se tornaram de adversários em inimigos.

Se faz necessário, segundo a análise de conjuntura social, refletir sobre as redes sociais e novas tecnologias e os desafios da liberdade, sendo cada vez mais evidente que “o poder não está ligado à posse dos meios de produção, mas ao acesso à informação”. Aumenta a virtualização das relações sob o fenómeno da Inteligência Artificial. Igualmente cabe destacar no cenário atual a forte instrumentalização da religião como tendência da política, do uso político da intolerância religiosa, e a oposição ao Papa Francisco, pela sua denúncia de uma economia que mata e os processos de desumanização, e é uma voz profética nesse contexto, continua presente.

Individualização e pluralização na Conjuntura Eclesial

Com relação à Conjuntura Eclesial, o bispo de Petrópolis (RJ) e presidente do Instituto Nacional de Pastoral (INAPAZ) que no atual quadriênio tem a responsabilidade de realizar essa análise, destacou que “o novo momento que o Brasil vive em todas as suas instâncias, inclusive na instância religiosa, chamado de ethos religioso atual, marcado por fortíssima individualização e pluralização”. Nessa conjuntura eclesial, “nenhum dos modelos de pastoral que hoje circulam pelo Brasil são capazes de responder total e unicamente”, afirmou o bispo, que vê necessário atuar com os três modelos de pastoral, e ao mesmo tempo descobrir um caminho novo. Segundo ele, “esse caminho significa uma Igreja mais missionária, uma Igreja em pequenas comunidades e uma Igreja marcada pela iniciação à Vida Cristã”.

Alargar a tenda

Essa análise de conjuntura social e eclesial se torna um instrumento que oferece uma ajuda importante na construção das Diretrizes para a Ação Evangelizadora na Igreja do Brasil, que pretendem ser concluídas em 2025, tendo em conta os novos desafios que estão aparecendo e as conclusões do Sínodo sobre a Sinodalidade, segundo destacou o arcebispo de Santa Maria (RS) e coordenador da equipe que elabora as diretrizes, Dom Leomar Brustolin. Nelas, é usada a imagem da tenda, “porque precisamos alargar o espaço” diante das novas realidades, colocando como exemplo a Inteligência Artificial e seu impacto sobre nossas vidas e sobre a evangelização, questionando como transmitir a fé para jovens e crianças.

Com relação ao “Instrumentum Laboris” das novas Diretrizes destacou três aspectos fundamentais: escutar os sinais dos tempos, trabalho a ser realizado pela Assembleia em 45 comunidades para o discernimento seguindo o método da conversação no Espírito; conversão pastoral, sem medo de deixar uma pastoral de manutenção para uma pastoral essencialmente missionária; e propor caminhos para a missão, uma transversalidade urgente no texto das Diretrizes. Tudo isso com uma linguagem mais propositiva, um texto enxuto, mais imediato, mais simples, que ajude as comunidades a entender os propósitos da CNBB.

Consonância com o processo sinodal

O arcebispo de Santa Maria, buscando a recepção das Diretrizes, defendeu a implantação de uma metodologia de avaliação dos processos, insistindo em sua aplicabilidade na Pastoral, tendo em conta a realidade, marcada pela violência, a questão crónica da pobreza, a polarização, que entrou nas comunidades. Tudo isso em consonância com o processo sinodal, e em uma realidade religiosa marcada pelo acento individualista presente na fé cristã, com pessoas mais narcisistas, egoístas, e pelo enfraquecimento do aspecto comunitário da fé, insistindo em que “não é possível ser cristão sem uma comunidade de fé”. Para isso fez m chamado a reconhecer todo tipo de comunidades, a não uniformizar, e a rever a iniciação cristã, as questões ligadas a espiritualidade e liturgia, a questão de solidariedade, caridade, a ecologia, uma questão urgente y que se faz necessário trabalhar, e a questão da missão, saindo da autoreferencialidade e de “uma pastoral atrás do balcão”.

Dom Leomar Brustolin destacou nas Diretrizes os sujeitos de sinodalidade: as juventudes, as mulheres, pessoas com deficiência, os idosos. Igualmente, ele destacou a importância do Sínodo para a Amazônia como um alerta importante, enfatizando que “a Querida Amazônia tem sido uma pauta constante na CNBB”, dado que “a Amazônia sempre é uma prioridade para a Igreja do Brasil, justamente pelos desafios que tem para sobreviver a essa realidade, ameaçada de várias formas, mas também a presença da Igreja como servidora na região”. Ele destacou a importância da missão na Amazônia, a realidade das igrejas irmãs, que facilita conhecer no Sul e Sudeste a riqueza da Amazônia e de sua Igreja, “exuberante, capaz de dar um fortalecimento a igrejas mais cansadas ou mais habituadas com uma tradição cultural sem a dimensão missionária tão forte”.

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12 abril 2024, 17:23