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Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I  (2021 Getty Images)

Bartolomeu, voltemos das trevas para a luz do nascimento de Jesus

O Patriarca Ecumênico de Constantinopla, por ocasião do Natal Ortodoxo, num artigo publicado pelo L'Osservatore Romano, invoca sobre os homens não as sombras, mas a luz do sol. Diante das guerras que ensanguentam o mundo, "o que falta a todos é a verdadeira compreensão do próximo". O egoísmo e a hipocrisia já não nos fazem mais ver os "irmãos e irmãs que sofrem ao nosso lado".

Bartolomeu I

Patriarca Ecumênico de Costantinopla

"A paz não pode ser considerada como garantida; ela não é óbvia. É um dever, uma conquista, (exige) uma luta incessante para preservá-la". A nossa Encíclica de Natal para o ano de 2023 continha esta mensagem: a paz deve ser buscada continuamente. Como é possível celebrar "com tímpanos e danças", como nos dizem os Salmos? Naquela manjedoura, naquela gruta onde há mais de dois mil anos uma criança nasceu e foi doada uma luz, tudo parece estar perdido. Hoje, nenhuma luz pode ser vista na cidade de Belém; nós, homens, transformamos a manjedoura claramente iluminada numa gruta escura e desolada, exatamente como era antes do nascimento de nosso Salvador. Portanto, agora que nos encontramos nessa escuridão, coloquemo-nos por um momento naquele tempo antes do seu nascimento, para que possamos tornar nossa oração ainda mais intensa.

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Desde a queda de nossos antepassados Adão e Eva, nossos ancestrais buscaram e ansiaram por se reunir com o Criador. Os profetas anunciaram o Messias justo que daria novamente o sopro doador de vida às nossas almas. Durante séculos, os antigos patriarcas de Israel conduziram o povo de Deus a esse objetivo, ao Horeb, ao Sinai, até chegar a Jerusalém, para que seu povo pudesse retornar à comunhão com Aquele "que é".

Entretanto, quando chega a hora, quando o universo se alinha para o nascimento de Cristo, vemos que "as raposas têm seus covis e as aves do céu seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça". Mas essa falta de um lugar apropriado e adequado para o nascimento de Cristo não impede o plano divino. Ele simplesmente pega uma manjedoura improvisada numa gruta e a transforma no lugar onde a glória de Deus se manifesta. Talvez a escuridão da gruta era o que precisava para reconhecer aquela luz que entrava no mundo. Talvez o contraste seja necessário; não se reconhece a unicidade dos raios do sol, pois é engolida pelo brilho da massa de luz. Se esse contraste é visto naquele momento único, na encarnação da segunda pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo que se faz carne, então o que devemos procurar nas escuridões atuais em que Belém se encontra?

No “mito da caverna” de Platão nos é ensinado a ver o espírito não iluminado. Um espírito acorrentado e obrigado a olhar em apenas uma direção, longe do exterior da caverna, que vê apenas as sombras das marionetes, limitado na sua capacidade de raciocinar e compreender devido à incapacidade de se virar e simplesmente sair da caverna, para ver a realidade. Talvez em ambos os casos a caverna seja a mesma; talvez tenhamos acorrentado outros homens para os controlar e forçar a sua participação num mundo que parece gerar apenas guerra, fome, desigualdade e doenças. Quer se trate da Ucrânia, de toda a África Subsariana, ou da recente retomada do derramamento de sangue no Oriente Médio, uma coisa é certa: o que falta a todos é uma verdadeira compreensão do “próximo”. O nosso egoísmo e nossas hipocrisias nos amarraram a tal ponto que não somos capazes de virar a cabeça e olhar para a direita e a esquerda para ver nossos irmãos e irmãs que sofrem ao nosso lado.

Optamos por introduzir a alegoria da caverna de Platão no contexto da gruta que viu o nascimento de nosso Redentor, Senhor e Salvador Jesus Cristo, pelo seguinte motivo: enquanto as pessoas ligadas a Platão vêem apenas sombras, com a escassa esperança de poucos fugirem, em Belém o Sol entrou na gruta, o Sol apareceu diante das pessoas acorrentadas; nasceu um menino – o nosso Messias – que nos conduz à nossa libertação. Durante os séculos que se passaram desde então, uma coisa foi garantida: "Porque estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá nunca nos separar do amor de Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor”.

Que Aquele que nasceu numa gruta e foi colocado numa manjedoura para a nossa salvação, Jesus Cristo, o "Deus conosco", continue nos abençoando, a resplandecer sobre nós e sobretudo a dar-nos forças para lutar pela sua paz justa e eterna!

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08 janeiro 2024, 13:09