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Paquistão: presos 2 cristãos acusados de blasfêmia e 129 muçulmanos por ataques a igrejas

A situação está sob controle em Jaranwala depois que a polícia paquistanesa prendeu dois cristãos acusados de rasgar páginas do Alcorão, escrever comentários insultuosos em outras páginas e depois jogar o livro no chão. Também 129 muçulmanos foram presos pelos ataques contra igrejas e residências de cristãos.

Vatican News

A polícia paquistanesa prendeu 129 muçulmanos depois que uma multidão enfurecida por uma suposta profanação do Alcorão vandalizou e incendiou 21 igrejas e 35 casas de cristãos em Jaranwala, entre as quais a residência de um pastor. Centenas de Bíblias foram queimadas.

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A polícia também prendeu dois homens cristãos, acusados por muçulmanos locais de rasgar páginas de um Alcorão, escrever comentários insultuosos em outras páginas e depois jogar o livro no chão. Para Amir e Raki Masih, a acusação é de terem "profanado o Alcorão, insultado o Profeta e os muçulmanos", diz a nota da polícia. Eles foram indiciados por blasfêmia e estão atualmente sob custódia do departamento de antiterrorismo, informou o primeiro-ministro da Província de Punjab, Mohsin Naqvi.

O chefe da polícia regional, Rizwan Khan, disse a situação está sob controle. As autoridades tiveram que convocar soldados para restaurar a ordem e os residentes cristãos começaram ainda na quinta-feira a voltar lentamente para suas casas e ver a destruição.

 

A suposta profanação desencadeou um violento tumulto na quarta-feira em Jaranwala, fazendo com que os cristãos fugissem para lugares mais seguros na cidade oriental, enquanto a multidão insuflada por extremistas muçulmanos infligia um dos ataques mais destrutivos contra os cristãos já presenciado no país.

“Estávamos sentados em casa quando de repente ouvimos que uma multidão se aproximava e queimava casas e atacava igrejas”, contou à AP Shazia Amjad enquanto chorava do lado de fora de sua casa carbonizada. Ela disse que foram queimados utensílios domésticos e móveis e que alguns de seus pertences foram roubados enquanto ela estava com sua família em uma área mais segura.

Outros cristãos descreveram situações semelhantes e expressaram perplexidade. Azeem Masih chorou enquanto estava sentado do lado de fora de sua casa, um dos vários prédios queimados em sua rua. Ele disse que alguns manifestantes trouxeram veículos para transportar utensílios domésticos dos cristãos depois de queimar móveis e outros pertences. “Por que eles fizeram isso conosco? Não fizemos nada de errado”, disse.

Um dos sacerdotes da localidade, Pe. Khalid Mukhtar disse acreditar que a maioria das igrejas de Jaranwala foram atacadas e sua própria casa foi danificada. Funcionários do governo disseram que todas as igrejas e casas danificadas serão reparadas dentro de uma semana e aqueles que sofreram perdas serão compensados.

A violência foi condenada em todo o país, e o primeiro-ministro interino, Anwaarul-ul-Haq Kakar, ordenou que a polícia garantisse que os manifestantes fossem presos.

Membros da comunidade cristã seguram cartazes durante um protesto contra os incidentes de violência em Faisalabad, Hyderabad, Paquistão, 17 de agosto de 2023.  EPA/NADEEM KHAWAR
Membros da comunidade cristã seguram cartazes durante um protesto contra os incidentes de violência em Faisalabad, Hyderabad, Paquistão, 17 de agosto de 2023. EPA/NADEEM KHAWAR

O chefe da polícia regional disse que a multidão rapidamente se reuniu e começou a atacar igrejas e casas cristãs. Os desordeiros também atacaram os escritórios de um administrador da cidade, mas a polícia interveio, atirando para o ar e empunhando cassetetes para dispersar os agressores com a ajuda de clérigos e anciãos muçulmanos.

Vídeos e fotos postados nas redes sociais mostram uma multidão de pessoas furiosas indo em direção a uma igreja, jogando pedaços de tijolos e ateando fogo. Em outro vídeo, outras quatro igrejas são atacadas, suas janelas quebradas enquanto os agressores jogam móveis para fora e os incendeiam. Em outro vídeo, um homem é visto subindo no telhado de uma igreja e removendo uma cruz de aço depois de bater nela repetidamente com um martelo enquanto uma multidão o aplaude.

A violência foi condenada por grupos nacionais e internacionais de direitos humanos. A Anistia Internacional pediu a revogação das leis de blasfêmia do Paquistão, segundo as quais qualquer pessoa considerada culpada de insultar o Islã ou figuras religiosas islâmicas pode ser condenada à morte.

Embora as autoridades ainda não tenham executado uma sentença de morte por blasfêmia, muitas vezes basta uma acusação para incitar multidões à violência, linchamentos e assassinatos. Grupos de direitos humanos dizem que alegações de blasfêmia foram usadas para intimidar minorias religiosas e acertar contas pessoais.

Vedant Patel, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, instou o Paquistão a conduzir uma investigação completa. “Apoiamos a liberdade de expressão pacífica e o direito à liberdade de religião e crença para todos”, disse ele em Washington na quarta-feira.

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18 agosto 2023, 07:47