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Voluntários Voluntários 

Artesãos de misericórdia

Num mundo sempre mais individualista e marcado pela cultura do descarte, é interessante refletir sobre o significado e a importância do voluntariado, dentro e fora da Igreja. Voluntário é aquele que age por vontade própria.

Irmão Darlei Zanon - Religioso Paulino

A Igreja Católica não é uma ONG ou uma associação de voluntariado, isso já enfatizou o Papa em diversas ocasiões. No entanto, a Igreja é fonte de caridade e dentre as suas ações há muito espaço – e necessidade – do trabalho voluntário. Exatamente isso é o que enfatiza o Papa Francisco no seu vídeo do mês de dezembro, no qual pede orações pelos voluntários e pelas organizações de voluntariado. Mais especificamente, Francisco convida-nos a rezar “para que as organizações de voluntariado e promoção humana encontrem pessoas desejosas de empenhar-se pelo bem comum e procurem caminhos sempre novos de colaboração a nível internacional.”

Num mundo sempre mais individualista e marcado pela cultura do descarte, é interessante refletir sobre o significado e a importância do voluntariado, dentro e fora da Igreja. Voluntário é aquele que age por vontade própria, que se compromete com um trabalho ou assume a responsabilidade de uma tarefa sem ter a obrigação de o fazer, que realiza alguma ação movido pelo desejo sincero de fazer o bem, sem esperar nada em troca, sem pretender nenhum pagamento pelo trabalho exercido. Alguém que quer colaborar com a construção de um mundo melhor, agindo por empatia, ou seja, com a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa.

Ser voluntário nos enche de alegria. E vai muito além, pois nos abre à justiça social, ao amor ao próximo, ao desenvolvimento humano, ao crescimento pessoal e comunitário. Exatamente isso é o que destaca o Papa Francisco no seu vídeo do mês: “o mundo precisa de voluntários comprometidos com o bem comum”. Precisa de pessoas que se comprometam com o outro, com a comunidade, que estejam dispostos a “multiplicar a esperança”.

Para ilustrar a importância do voluntariado, o Sumo Pontífice utiliza uma expressão muito bonita e cheia de significado: a imagem do artesão, tantas vezes já utilizadas por Francisco, junto ao conceito de misericórdia, sentimento ou virtude ao qual dedicou inclusive um ano jubilar (2016). Francisco afirma que “ser voluntário é ser artesãos de misericórdia: com as mãos, com os olhos, com o ouvido atento, com a proximidade”.

Artesão é aquele pequeno produtor que exercita a sua arte com paciência, cansaço, cuidado e constância, mas também com grande maestria. Produz objetos cuja realização exige uma particular capacidade técnica e um específico gosto estético. O artesão é um profissional no seu campo, mas é também um artista, criativo, inovador, minucioso. Empenha-se e envolve-se profundamente na sua criação, vê a sua obra como uma extensão da sua pessoa. O artesão dá vida, “põe a mão na massa” diríamos popularmente.

O conceito de artesão exprime bem a visão e a metodologia de trabalho a serem concretizadas para alcançar a misericórdia e a comunhão. É um trabalho feito de pequenos e grandes gestos, a cada dia, em cada situação, colocando atenção a cada pequeno detalhe, como fizeram Jesus e os seus discípulos. Ser artesão significa, como indicou o Papa Francisco em outra ocasião, «praticar a paciência, o diálogo, o perdão, a fraternidade» (Angelus, 19 de fevereiro de 2017).

A imagem do “artesão” é utilizada pelo Papa com frequência. Poderíamos recordar, por exemplo, de quando incentivou os participantes no Concerto Beneficente “Avrai”, realizado na Sala Paulo VI em 2016, a serem “artesãos de misericórdia a cada dia”; ou quando nos falou dos “artesãos de justiça e de paz”, na mensagem para a LIII Jornada mundial da Paz (1° de janeiro de 2020); de “artesãos de fraternidade”, na mensagem na Praça do Campidoglio, Roma (26 de março de 2019); ou então dos “artesãos de hospitalidade”, durante a cerimônia de boas-vindas na Tailândia (21 de novembro de 2019); e ainda de “artesãos de paz”, no Angelus de 1° de janeiro de 2019. Comum a todos esses discursos, inclusive à imagem do voluntário como um “artesão de misericórdia”, está a certeza de que a atividade artesanal requer trabalho exigente e contínuo, e pode dar resultados esplêndidos, gerando verdadeiras obras de arte.

A misericórdia que somos convidados a construir artesanalmente através do voluntariado se torna sinal potente do amor de Deus no mundo e por isso um testemunho forte de comunhão, de fraternidade e de alegria do Evangelho. Tema provocador para refletir e rezar especialmente durante o Advento, enquanto esperamos alegres e ansiosos pela encarnação do Filho de Deus, expressão maior do seu amor e misericórdia.

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06 dezembro 2022, 14:10