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Cardeal Gantin com o Papa Bento XVI em 2005 Cardeal Gantin com o Papa Bento XVI em 2005 

Cardeal Gantin: alma africana e espírito cristão

O cardeal Giovanni Battista Re, emérito da Congregação para os Bispos e atual decano do Colégio dos Cardeais recorda os cem anos do nascimento do Cardeal Bernardin Gantin, nascido em 8 de maio de 1922 em Toffo no então Daomé, atual Benin. O Cardeal Gantin foi o primeiro bispo africano a ser chamado a altos cargos de responsabilidade na Cúria Romana e faz parte da primeira geração de sacerdotes africanos elevados ao episcopado dos nossos tempos

Card. Giovanni Battista Re

Este mês de maio marca o centenário do nascimento do Cardeal Bernardin Gantin, que ocorreu em 8 de maio de 1922 em Toffo, no que era então Daomé. O Cardeal Gantin foi o primeiro bispo africano a ser chamado a altos cargos de responsabilidade na Cúria Romana e faz parte da primeira geração de sacerdotes africanos elevados ao episcopado dos nossos tempos, muito longe dos inesquecíveis bispos africanos dos primeiros séculos do cristianismo, entre os quais se destacam Santo Agostinho e São Cipriano.

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"Nunca esqueça de onde viemos"

Formado no seminário de Saint-Gall em Ouidah (Benin), foi ordenado sacerdote em 1951 aqui em Roma, enquanto frequentava a Pontifícia Universidade Lateranense. Em 1956, com apenas 34 anos, foi nomeado bispo, oito meses antes de Daomé se tornar um estado independente com o nome de Benin. Em 5 de fevereiro de 1960 foi nomeado arcebispo metropolitano de Cotonou e logo depois tornou-se presidente da Conferência dos Bispos da África Ocidental francófona (Cerao). Foi um dos bispos mais jovens, juntamente com Dom Karol Wojtyła, a participar das quatro sessões do Concílio Vaticano II. Em 1971 o Papa Paulo VI chamou-o para Roma como Secretário Adjunto da Congregação da Propaganda Fide e, após dois anos, como Secretário. Foi também brevemente Presidente da Pontifícia Comissão Justiça e Paz e do Pontifício Conselho Cor Unum. No consistório de 1977, o Papa Montini o criou cardeal. Sua mãe, que veio a Roma para a ocasião, disse-lhe ao despedir-se dele antes de retornar a Benin: "Mesmo sendo um cardeal, nunca se esqueça da aldeia distante de onde viemos".

Cardeal Bernardin Gantin
Cardeal Bernardin Gantin

A volta a Benin

Em 1984, o Papa João Paulo II o nomeou Prefeito da Congregação para os Bispos e, ao mesmo tempo, Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, cargo que ocupou durante 14 anos. Foi decano do Colégio dos Cardeais durante uma década e, aos 80 anos, pediu demissão para voltar ao seu povo em Benin. Ali retomou suas atividades evangelizadoras que iniciara no dia de sua ordenação sacerdotal e que, embora de formas diferentes, nunca tinha interrompido. A partida do Cardeal Gantin de Roma foi para muitos de seus amigos italianos e para mim, que fui seu colaborador e depois Prefeito do dicastério dirigido anteriormente por ele, uma separação dolorosa, mas todos nós apreciamos a alta inspiração que o moveu: ele queria voltar para onde tinha começado seu ministério sacerdotal e episcopal para dedicar o último trecho de sua vida ao seu país de origem. Ele o fez por desejo de seu coração, mas sobretudo para ser útil ao crescimento em Cristo da população de seu amado Benin, onde fora arcebispo no início de seu ministério. Foi uma decisão coerente como toda a orientação de sua vida e a preocupação de seu coração de pastor.

Alma africana com espírito cristão

Nascido em maio, ele terminou seus dias na terra no mesmo mês, em 13 de maio de 2008, aos 86 anos, dos quais 31 foram passados na Cúria Romana. Juntamente com o Cardeal Francis Arinze, presidi seu funeral em Cotonou em nome do Papa Bento XVI. A missa fúnebre foi realizada no estádio de Cotonou, na presença de cerca de sessenta bispos de vários países, principalmente africanos, do Presidente da República com todos os ministros do governo do Benin, muitos sacerdotes, religiosos e religiosas e uma multidão extraordinariamente numerosa de fiéis. No final da missa fúnebre, o Presidente da República tomou a palavra para recordar a figura do Cardeal Gantin e terminou anunciando que, a partir daquele dia, o aeroporto da capital levaria o nome "Cardeal Bernardin Gantin". Além de suas características de ser um líder calmo e sereno, o Cardeal Gantin combinou grande gentileza e amabilidade natural que criou fraternidade e comunhão; acima de tudo, ele se distinguiu por uma profunda espiritualidade e um marcado espírito paternal. Bento XVI, ao falar sobre ele disse que a personalidade humana e sacerdotal do Cardeal Gantin constituía uma síntese maravilhosa das características da alma africana com as do espírito cristão, unindo a identidade africana e os valores evangélicos. Um aspecto que sempre me impressionou no Cardeal Gantin foi o sentido missionário que o animava: muitas vezes o ouvi falar da urgência e da importância da obra missionária. Muitas vezes o ouvi expressar sua gratidão pelo trabalho realizado pelos missionários europeus na África. Ele também se considerava como um fruto do trabalho dos missionários. Eu diria, um fruto maduro, porque junto com a simplicidade de seus modos, o Cardeal Gantin tinha uma fé robusta e um intenso amor a Deus, à Igreja e ao Papa.

O Santuário

Sua devoção a Nossa Senhora foi edificante. Costumava lamentar que em Benin faltava um verdadeiro santuário mariano, apesar da devoção a Nossa Senhora ter chegado ao país com os missionários portugueses na segunda metade do século XVII, seguida em 1861 pelos missionários franceses. Estudou muito como remediar isso e encontrou colaborações generosas na África e na Europa. As contribuições mais generosas foram a do Papa João Paulo II e da Conferência Episcopal Italiana. Em 4 de outubro de 1998, ele colocou a pedra fundamental do santuário de Nossa Senhora de Arigbo, aos pés da colina de Dassa-Zoumé, na estrada de Cotonou que leva ao norte do país. A solene celebração contou com a presença de mais de três mil fiéis, acompanhados por todos os bispos das dez dioceses do Benin. Após quatro anos, foi concluída a construção do santuário. O Cardeal Gantin o visitou várias vezes para rezar e celebrar a missa.

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10 maio 2022, 11:25