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Dom António Juliasse Ferreira Sandramo, Bispo de Pemba (Moçambique) Dom António Juliasse Ferreira Sandramo, Bispo de Pemba (Moçambique) 

Moçambique. Dom A. Juliasse: “continua preocupante o conflito no norte do País”

A cinco anos do seu início em outubro de 2017, continua preocupante o conflito no norte de Moçambique, conflito que já fez quase três mil mortos e mais de 900 mil deslocados – denuncia o Bispo de Pemba, Dom António Juliasse, renovando o seu apelo à solidariedade da comunidade internacional, já a braços com novas crises humanitárias.

P. Bernardo Suate – Cidade do Vaticano

Em entrevista ao Vatican News, Dom António Juliasse Ferreira Sandramo, Bispo de Pemba (Cabo Delgado, norte de Moçambique) falou dos desafios e dificuldades da Diocese neste momento, ligadas sobretudo à guerra e de um povo exposto ao sofrimento, sem saber porque e nem as razões do conflito, que já vai no quinto ano. “Assiste-se a um sentimento generalizado de insegurança nas pessoas, as pessoas entram em pânico, particularmente quando há ataques que se repetem em poucos dias e em várias aldeias”, explicou o prelado, falando também de inteiras aldeias abandonadas, de pessoas em fuga e muitas vezes sem destino certo: “tudo uma situação difícil e de sofrimento, e que a Igreja tenta apoiar”, enfatiza Dom Juliasse.

Um conflito do Norte de Moçambique

Este conflito é já “conflito do Norte de Moçambique (antes se falava de guerra, de terrorismo, de insurgência ... de Cabo Delgado), sublinha ainda o Bispo de Pemba, pois a província do Niassa já teve ataques e recentemente começa a haver ataques também na província de Nampula. A violência se alastrou, portanto, para além dos limites geográficos de Cabo Delgado, o que a todos preocupa porque “todos nós como moçambicanos, e também como líderes da Igreja, esperávamos que até esta altura, cinco anos depois, víssemos esta violência contida”, observa o prelado.

Um conflito que a todos preocupa

Para a autoridade civil, poderia tratar-se de pequenos grupos que fogem da zona controlada pelos militares e em busca de terreno desprotegido para fazer alguma acção e criar impacto a nível nacional e internacional – seria o caso do recente ataque a Chipene (em que morreu a missionária Comboniana) e que criou um impacto muito grande, reiterou Dom Juliasse, indicando os anteriores ataques terroristas na província de Nampula: “primeiro, no distrito de Eráti, com um centro de saúde destruído; e depois uma mesquita queimada no distrito de Memba, e depois uma Missão paroquial católica da diocese de Nacala, em Chipene, também destruída e, infelizmente, com o bárbaro assassinato da Ir. Maria Di Coppi”.

“Tudo isto preocupa a todos, e deveria ser uma das razões para que o Governo e as forças vivas de Moçambique, entrem num debate profundo para que se encontre uma resposta mais envolvente e mais eficaz para que esta situação se resolva”, sugere o Bispo de Pemba. Se, por um lado, a população afectada ignora por completo as causas do conflito (pois “se viu simplesmente exposta a uma situação de sofrimento ao ver os seus familiares mortos por causa desta violência”), por outro lado, os académicos e autoridades governamentais associam a guerra a muitos factores, entre os quais o extremismo islâmico e outros factores que fazem com o terreno seja propício à adesão dos jovens à proposta radical e terrorista – sublinhou Dom Juliasse.

Corrupção, juventude desempregada, sem condições nem oportunidades

E isto, explicou o prelado, tem a ver com a taxa muito elevada de desemprego da juventude, a falta de condições para sonhar o futuro, e sobretudo a falta de um ideal comum onde os jovens possam visualizar e acreditar que se se esforçarem poderão sair de uma maneira justa da condição em que agora se encontram e, portanto, poderem ter uma vida mais digna, num futuro breve.

Outro mal indicado por Dom António Juliasse é o crescimento da corrupção estrutural no País, onde as oportunidades são reservadas a poucos, e tudo é dificultado, “fazendo com que os jovens se revoltem e sintam que o País não lhes pertence”, um dos aspectos muito perigosos e que pode propiciar o alastramento da violência no País, enfatiza o prelado, pois não se trata apenas da pobreza material, mas de “fazer com que o jovem acredite que o País lhe pertence, que Moçambique é dele, e que o seu futuro também está no País”.

Isto vai exigir, insistiu Dom Juliasse, que todos trabalhemos para ajudar a juventude a compreender que têm um papel muito grande, e também ajudá-los a não optarem por reproduzir os sistemas de corrupção que existem no País. Pois em Moçambique e em toda a região da África austral a maioria é jovem mas, por vezes, o papel da juventude não se vê bastante, não se oferece oportunidades aos jovens: “as oportunidades não existem, e quando existem são muito políticas, e os jovens ficam simplesmente anulados por causa da corrupção (o acesso a este ou aquele sector não é por competência mas por confiança, e por caminhos não transparentes)”, coisa que precisa mudar nas nossas sociedades, enfatizou o prelado.

IMBISA e papel da juventude na região

“É preciso deixar que a juventude sonhe com um futuro melhor, e que eles sejam actores desse futuro melhor, desde já, sem esperar por amanhã”, reiterou Dom Juliasse que também se referiu à 13ª Assembleia Plenária da IMBISA (Associação Inter-regional dos Bispos da África Austral), que vai reflectir sobre o papel da juventude e a sua aplicação nas nossas sociedades. Porque o trabalho da Igreja, reitera o Bispo de Pemba, é também necessário para dar oportunidade aos jovens de se exprimirem, e colocar a orientação da Igreja universal, como é o caso da Exortação apostólica pós-sinodal Christus vivit, que nos oferece linhas promissoras que a juventude tenha realmente o seu espaço na Igreja e na sociedade”.

Agradecimentos e novo apelo

A terminar, Dom Juliasse observou que com o alastrar-se do conflito a outras províncias, à primeira vaga de deslocados que se encontravam nas províncias de Cabo Delgado, Niassa, Nampula e Zambézia, novos deslocados (da província de Nampula recentemente atacada) se vão adicionando aos primeiros aos actuais mais de 900 mil. Então a situação humanitária é muito grande, enfatizou o prelado agradecendo, antes de tudo pelos apoios recebidos (sobretudo através da Caritas e do Sector de Emergência da Diocese de Pemba), sem os quais, disse, a situação seria ainda mais desastrosa.

“Agradeço a todos os que contribuíram: grandes agências e também pessoas singulares que colocam a sua contribuição em favor do Norte de Moçambique”, reiterou Dom Juliasse. Vemos, contudo, que recentemente as ajudas vão diminuindo, provavelmente para acudir a outros conflitos que existem no mundo, e em particular o conflito que existe na Europa, na guerra da Ucrânia, observou o prelado. Todos nós, de facto, devemos ser solidários com a Ucrânia, que está num sofrimento que também não tem razão de ser, disse Dom Juliasse com o auspício de que, com as novas emergências, não se esqueça o sofrimento de Cabo Delgado e do Norte de Moçambique.

“Agradeço a todos os que contribuíram: grandes agências e também pessoas singulares que colocam a sua contribuição em favor do Norte de Moçambique”, enfatizou. Vemos, contudo, que recentemente as ajudas vão diminuindo, provavelmente para acudir a outros conflitos que existem no mundo, e em particular o conflito que existe na Europa, na guerra da Ucrânia, observou o prelado. Todos nós, de facto, devemos ser solidários com a Ucrânia, que está num sofrimento que também não tem razão de ser, disse Dom Juliasse com o auspício de que, com as novas emergências, não se esqueça o sofrimento de Cabo Delgado e do Norte de Moçambique.

Oiça aqui a entrevista integral com Dom A. Juliasse, e partilhe

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23 setembro 2022, 15:26